segunda-feira, 5 de abril de 2010

"A práxis pedagógica presente e futura e os conceitos de verdade e realidade frente às crises do conhecimento científico no século XX"

O texto, inicia abordando sobre os conceitos de verdade e realidade. Segundo Bohm (1989: 143), o pensamento e a ação humana são pendentes da noção genérica de ordem, em um local e período histórico, ocorrendo mutações na sociedade ou em qualquer área da vida quando esta noção é modificada. Isto é perceptível, quando se compara a cosmovisão da sociedade Medieval, da sociedade Moderna e da sociedade Contemporânea. A cosmovisão Medieval era a de uma ordem antemportal (eterna), em que cada coisa tinha seu lugar natural, além disso, as leis, a moral e ética estavam amparadas na religião e na filosofia. Na cosmovisão Moderna, atualmente ainda hegemônica, a maneira de pensar e de conceituar está associada à linguagem e às tecnologias da escrita. A escrita constitui condições para o distanciamento e a objetividade. Os modelos, as categorias necessárias à descrição e à interpretação da natureza e da sociedade, surgiram através da afinidade entre os textos e suas interpretações e, essa relação abrange uma forma de qualificar e organizar o conhecimento. Esta forma, promove a cobiça teórica e as aspirações à universalidade. A norma para o conhecimento é a “verdade”, crítica e objetiva, autônoma dos indivíduos que a comunicam.
Com os questionamentos e as transformações que acontecem no modelo científico e tecnológico, ressignificações acontecem na noção de ordem, o que tem proporcionado a configuração de uma nova cosmovisão, e nesta, a relação do homem com a natureza é analisada como inativa.
A reconfiguração da cosmovisão moderna está ligada com as novas problemáticas, multipolares, que estão surgindo na contemporaneidade, e estas tem gerado conflitos, reconfigurações,,conseqüências dentro das constituições sociais, subjetivas e políticas, e os novos meios técnico-científicos são expressivos nesse procedimento. Dessa forma, o saber científico entrou em colapso e, conseqüentemente o modernismo universal também. Contudo, após a Segunda-Guerra, percebe-se que a ciência pode ser favorável para a humanidade como pode destruí-la. Com isso, seria exigido um novo estilo de vida, com novas subjetividades, pensamentos e relações sociais e ambientais.
A comosmovisão contemporânea aponta que nenhum sistema pode analisado como se fosse independente por completo e nenhuma imagem é congruente ao próprio objeto. O processo é mutável, virtual, acessível à invenção de novos espaços.
Contudo, não se pode eliminar parte dos mitos e sonhos, como também não se pode eliminar as línguas, as técnicas de comunicação, representação e registro, pois, de acordo com Lévy (1993) o ser humano nunca atua só, sem ferramentas. A realidade e a verdade estão imbricadas uma na outra.
O autor então começa a abordar sobre a práxis pedagógica. A cosmovisão moderna, embasada na noção geral de ordem, a maioria das instituições sociais de nosso tempo e, uma dessas instituições é a escola. Enquanto a noção de ordem da escola é a da modernidade, a noção de ordem do mundo exterior da escola tende a ser a da cosmovisão contemporânea, prontamente se fazendo existente em vários setores da vida, especialmente na dos jovens-adultos. A reprovação e evasão escolar em graus elevados têm evidenciado que não há entendimento entre esses dois mundos e que essa não-comunicação, tem feito a escola ingressar em crise e tem movido a Educação a enclausurar-se num processo fechado, formalista. Por outro lado, as díspares formas de ação e interação vivente entre os alunos, como a violência na escola, apontam que o contexto de externo da escola, invade a mesma, mediado pelos estudantes, porém, essas diferentes formas ainda não abrangem os professores, sobretudo em relação à proposta pedagógica desenvolvida por eles, nem a própria instituição.
Atualmente, a noção de ordem da escola é embasada no princípio de formação científica, um conhecimento “verdadeiro” que deve ser passado ao estudante, sendo o educador o detentor dessa verdade. A aprendizagem é concebida como um procedimento particular, dependendo somente da determinação e perseverança de cada educando.
A escola, além de tentar extinguir a complexidade, também tenta extinguir a historicidade. O modelo pedagógico também é determinista e histórico, pois segue programas, estes, em geral são preparados em outras ocasiões, não na escola, mas são atribuídos a comunidade escolar. Atualmente, é perceptível que deve haver uma modificação na sala de aula, uma modificação intensa, que agrupe as novas formas de ser, de pensar e de agir que estão surgindo na contemporaneidade, especialmente com o comparecimento de tecnologias da informação e da comunicação dentro e fora da escola. Isto pode importunar a edificação de um novo modelo pedagógico. A tecnologia na escola não deve ser entendida somente como um instrumento ou ferramenta, é preciso compreender a tecnologia como o dizer, o entender, o intencionar o que se faz. É claro, que não é satisfatório alterar apenas a escola. É de extrema importância entender a educação de forma mais abrangente, além do espaço escolar, pois, desde que nascemos até morrermos, estamos em um constante processo de aprendizagem e subjetivação. O processo de educação se faz entre os sujeitos que se fazem homens particulares nesse processo interativo. Mas, ainda assim, a escola é um significativo espaço público de organização e sistematização de aprendizagem. Os conhecimentos originados nos diferentes ambientes sociais ostentam através da escola, formas de organicidade e sistematização que só podem imprimir um sistema formal de educação proposital. Torna-se assim, imprescindível, repensar o ser da escola para que a dinâmica que ali se instaure torne-se tão expressiva para a comunidade quanto às dinâmicas que se instaram nos demais espaços em que se interagem. Para isso, o modelo pedagógico não pode mais permanecer seguindo programas instituídos a priori. A ação da escola deve ser uma estratégia, uma arte de trabalhar com a incerteza, com o pensamento complexo, um pensamento que sabe que sempre é local, situado em um tempo e em um momento.

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